Sáb 20 Set 2014 - Dom 30 Nov 2014
LA GRANDE LIGNE no Museu de Aveiro

Descrição do Evento

LA GRANDE LIGNE Fotografia de JOAO BATISTA

SINOPSE
Nadia Boulenger (1887-1979) influenciou decisivamente a história da música, praticando um método em que Aaron Copland (1900-1990) reconhece, como princípio agregador, a criação da la grande ligne. Nas palavras de Copland, esta ideia inclui ... the sense of forward motion, of flow and continuity in the musical discourse; the feeling for inevitability, for the creating of an entire piece that could be thought of as a functioning entity (Copland On Music, 1960, p. 90).
Por vezes esta continuidade acontece em obras que são reconhecidas como sendo de exceção. Noutros casos, provavelmente a maioria, essa continuidade não é tão evidente, ou não existe de todo.
A inevitabilidade do fluxo, mais ou menos bem conseguido, é em qualquer caso um imperativo. Quando o fluxo é interrompido antes da sua conclusão, a obra fica incompleta. A uma nota segue-se inevitavelmente outra, algumas notas conjugam-se, por vezes de forma tranquila, noutras mais tempestuosa, mas geralmente culminando numa conclusão, em que as notas se arrumam, repousam, e ficam prontas para serem finalmente escutadas.
Estes percursos musicais não parecem distintos dos que podemos observar nos fluxos das atividades e das interações entre as pessoas, que percorrem longas linhas mais ou menos sinuosas, mais ou menos tortuosas, com mais ou menos incidentes, com mais sucessos ou insucessos, mantendo o fluxo. Essa longa linha aproxima-nos e afasta-nos, interroga-nos e responde-nos, desafia-nos e conforta-nos, mantendo o fluxo. Ao longo dessa linha construímos e destruímos, amamos e odiamos, mostramo-nos e escondemo-nos, mantendo o fluxo.
Em algum momento esse fluxo atinge uma conclusão. É o momento em que as notas se arrumam, em que o equilíbrio é alcançado. As sinuosidades adotam formas mais lineares, as respostas aproximam-se das interrogações, os amores e os ódios confundem-se. As notas sossegam, a sinfonia está concluída. Podemos agora escutá-la, primeiro baixinho, depois mais alto, a sua essência está agora disponível e liberta a sua expressão.
Nesta exposição podem observar-se obras em que se procura exprimir a ideia de la grande ligne, como ideia agregadora da inevitabilidade da procura dos conceitos, da essência das coisas, de formas de entender e de exprimir o outro lado. Cada “outro lado” representa mais uma perspetiva através da qual o conhecimento pode ser observado, entendido ou construído. Ao percorrer cada linha, ao observar cada obra, várias perspetivas se apresentam, umas mais próximas e outras mais distantes.
Para abrir esta exposição aos olhos do espectador, que assim mais facilmente poderá encetar a sua “viagem”, Marisa Coutinho executa a primeira suite para violoncelo, BWV 1007, de J. S. Bach, numa transcrição para viola de arco. As notas vão soltar-se mostrando a essência dessa “sinfonia”, estabelecendo assim a sua ligação com as obras agora expostas.
Joao Batista, 2014